sexta-feira, 7 de março de 2014

História da banda Raimundos

O COMEÇO


Tudo começou em 87, quando Digão e Rodolfo se conheceram, por morarem na mesma

rua, num dos bairros de Brasília. Naquela época Rodolfo tocava guitarra, e Digão bateria.

Logo se reuniram para jogar conversa fora e tocar as músicas de seu grupo favorito - os

Ramones. Segundo Rodolfo, o amplificador utilizado por ele era tão ruim que ficava igual. E

Digão levava um som bem "hardcore", influenciado principalmente por Dead Kennedys (ele

considera o álbum "Bedtime For Democracy" o seu predileto). Mas faltava o baixo.



CANISSO NA BANDA


A sugestão de Rodolfo foi chamar o Canisso, pois ele daria um visual "arrojado" para a

banda. Com a entrada de Canisso, o negócio começou a ficar um pouco mais sério, e as

primeiras composições começaram a surgir. E foi no reveillon de 88, na casa do amigo

Gabriel (ex-vocalista e guitarrista da banda Little Quail), que aconteceu o considerado

primeiro show do Raimundos. E uma das pessoas na platéia era ninguém menos que o

futuro baterista da banda, Fred Mello. E ele comenta: "eu lembro que eles tocaram covers

de bandas que eu gostava muito naquela época, além de músicas próprias com letras

interessantes". Rodolfo complementa: "Já era 'forró-core' na época: a gente tocava uma

música nossa, uma do Zenilton (o forrozeiro predileto dos caras) e um monte dos

Ramones", conta - utilizando o rótulo criado por eles próprios para definir o estilo da banda

(conforme o encarte da fita demo), mas que depois viria a ser "amaldiçoado" pela banda,

por limitar o som (mais detalhes adiante). A parte nordestina do som do Raimundos é

hereditária, a cultura nordestina sempre esteve presente na vida deles. "Minha família é da

Paraíba, e eu me lembro que desde os dez anos, eu sempre ia naqueles churrascos

familiares com os meus pais. Tocava forró o tempo inteiro, e eu achava aquilo um saco. Só

gostava das músicas do Zenilton, por causa das letras sacanas, achava aquilo muito fera",

conta Rodolfo. Dessa forma, estava definida a fonte de inspiração da banda. O próximo

passo era a divulgação, através de shows em pequenos bares de Brasília, e principalmente

festas. Segundo Fred, que presenciou de fora o início da banda, "existia um estigma em

Brasília, sempre que tinha uma festa e o Raimundos ia tocar, a festa lotava". A banda

continuou dessa forma durante dois anos, até sua separação.



O FIM DO RAIMUNDOS


Com o surto de bandas de heavy metal que tomou conta da cidade (1989/90), a banda

passa a acreditar que deveria seguir o mesmo caminho para atingir o sucesso. Resolvem

recrutar músicos melhores (um novo baixista e um segundo guitarrista), achando que

deveriam tocar melhor. Em 90, a banda se separa, devido a diversos problemas internos.

"Cada um foi cuidar da sua vida. Canisso foi estudar Direito (Universidade de Brasília) e

teve seus filhos, o Digão largou a bateria por problemas auditivos (estava ficando surdo) e

começou a tocar guitarra, e eu cantava em uma banda chamada 'Royal Straight Flesh'",

afirma Rodolfo. Depois, Rodolfo se casou e foi morar no Rio. "A separação nos fez bem.

Todos crescemos muito e chegamos à conclusão de que queríamos ser músicos mesmo",

afirma Digão.



O RETORNO


Em 92 surgiu uma oportunidade de tocar em um bar em Goiânia e a decisão foi unânime: o

Raimundos seria ressuscitado. Porém, como a banda não tinha mais baterista (Digão agora

era guitarrista, deixando Rodolfo livre para os vocais), a saída foi apelar para uma bateria

eletrônica. Canisso explica: "arrumaram um show pra gente em Goiânia. Levamos tudo

preparado na eletrônica, pois a mesma batida dava pra todas as músicas dos Ramones. Só

que por um problema de impedância, o negócio tocou tudo diferente". Era inevitável a

procura por um novo baterista.



FRED NA BANDA E A FITA-DEMO


Ainda em 92, Fred, que já era fã do grupo, foi recrutado para a bateria, dando um

direcionamento mais sério para o trabalho da banda. Rodolfo conta: "o Fred entrou na

banda e logo se adaptou. Tirou todas as músicas na bateria, começamos a fazer shows, no

ano seguinte já gravamos a demo, e estamos nessa correria até hoje". A famosa fita demo

do grupo gravada em 1993, levou o nome de "Raimundos Demo-Tape", e continha quatro

músicas: "Nêga Jurema", "Marujo", "Palhas do Coqueiro" e "Sanidade" - esta inédita em

álbuns até hoje, por se tratar de uma letra séria, totalmente diferente do estilo que

consagrou o grupo - além disso, seus riffs inicais foram utilizados na música "Tora Tora",

enterrando de vez a idéia inicial). Com essa fita, a banda iniciou a sua divulgação pelo país.

A fita espalhou-se rapidamente, pois o som da banda era uma novidade no cenário musical

brasileiro.



JUNTA TRIBO


Mas a imprensa preferia ignorar o movimento "underground", as bandas sem gravadoras e

principalmente as letras recheadas de palavrões. Mas o grupo crescia, e foi no festival Junta

Tribo, realizado pelo fanzine Broken Strings em plena Unicamp (universidade de Campinas)

que a banda começou realmente a chamar atenção. O evento reuniu cinco mil malucos e

dezessete bandas independentes durante três dias. Quem viu a apresentação daqueles

quatro candangos de crossover alienígena diz que foi memorável. "O engraçado é que eu

mesmo liguei pedindo pra gente tocar", conta Fred. "Nosso nome nem estava no cartaz do

evento". Terminaram como unanimidade do festival. A partir daí, o Brasil começou a ouvi

falar no som do Raimundos, e a fita demo passou a ser disputada a tapa pelos quatro

cantos do país.



M2000 SUMMER CONCERTS


E foi no festival M2000 Summer Concerts, em Santos (04/02/94), que o Raimundos

passou a chamar a atenção de todos. O show, bastante aguardado por aqueles que já

haviam ouvido falar da banda, mais ainda não conheciam o som, serviu para firmar a banda

com um som totalmente hardcore (como pôde ser visto na imprensa, no dia seguinte),

diferente do que alguns esperavam - 50% forró e 50% hardcore. Apesar do som ter

apresentado problemas, e a banda estar um pouco fora de forma ("fazia um mês que a

gente estava parado, só tomando Coca-Cola e comendo pizza", entrega Digão), o show foi

um dos mais aplaudidos da noite (tocaram Doctor Sin, Deborah Blando, Rollins Band, Mr.

Big e Lemonheads), pelo público de 80 mil pessoas. Rodolfo comenta: "Na hora que eu vi

o hotel cinco estrelas e o ônibus só pra gente eu pensei: 'cara, a gente é banda!'".



BANDA DE ABERTURA


Algumas bandas que gostaram daquele novo estilo do grupo começaram a convidar os

caras para abrir shows no Rio de Janeiro. Eles abriram shows do Camisa de Vênus, Ratos

de Porão no Circo Voador e uma temporada completa para os Titãs - em um desses

shows, um mal sucedido "mosh" dado pelo baterista Fred lhe acarretou um coágulo no

cérebro, felizmente retirado com uma cirurgia. O convite para abrir esses shows lhes rendeu

uma legião de fãs, e a atenção das grandes gravadoras. Rodolfo conta: "várias delas nos

procuraram querendo mexer no nosso som, censurar as letras e diminuir a intensidade.

Podíamos estar agora cheios da grana e infelizes, mas preferimos recusar as propostas".

Mal sabia ele o que essa fidelidade com o som original da banda viria a acarretar para o

rock nacional dos anos 90.





O SELO BANGUELA


O jornalista e radialista brasiliense Carlos Marcelo, tendo uma cópia da fita demo em mãos,

entrou em contato com um amigo jornalista da revista musical Bizz (atual ShowBizz),

ninguém menos que o Carlos Eduardo Miranda, que conta: "eu escutei aquela fita e já entrei

em contato com os caras, falei pro Fred vir para São Paulo, que a gente precisava

conversar, pois já existia alguns planos sobre o selo Banguela , mas nada estava certo

ainda. Então a gente se encontrou, já ficamos amigos". A vontade de gravar o grupo era

tanta que os próprios Titãs, junto com o produtor Miranda, resolveram montar o selo,

filiado a gravadora Warner, que ficaria responsável pela distribuição dos álbuns do

Banguela. "As outras gravadoras oferecem contratos milionários, limusine, hotel cinco

estrelas, só que quem acaba pagando todo isso são as próprias bandas, que tem que

vender muito para cobrir os gastos. Nós temos o suficiente, o mínimo necessário pra fazer

algo apresentável". Foi assim que o grupo finalmente começou a gravar o seu disco de

estréia. A partir daí a banda passa a morar em São Paulo, já que nenhuma gravadora teria

condições de ficar bancando as viagens para Brasília. No início eles ficaram hospedados na

casa do Carlos Eduardo Miranda, onde tiveram que dormir no chão. Mas não por muito

tempo.





FORRÓ-CORE x ROCK PAULEIRA


Mas afinal, o que era o "forró-core"? Este termo foi criado para definir a mistura que a

banda fazia em algumas músicas, mas surgiu mais como uma brincadeira. Alguns repórteres

chegaram a perguntar para eles como foram os trabalhos de 'pesquisa' de forró. Mas, como

já havia sido dito, o forró surgiu meio que inconscientemente no som da banda. E como o

termo criado por eles próprios passou a limitar o som do grupo (já que se esperava algo

com metade rock e metade forró), eles preferiram passar a denominar o estilo como sendo

apenas "rock pauleira".





O PRIMEIRO CLIPE


Um pouco antes do álbum de estréia sair eles gravaram de forma independente, com a

produção do "CPCE" da UnB (Universidade de Brasília) e direção de Eduardo Bellmonte,

o clipe da música de trabalho do álbum, "Nega Jurema". Este foi o pontapé inicial para a

divulgação da banda para aqueles que ainda não conheciam o som, ou seja, através da

MTV (já que o som era impróprio naquela época para tocar em certas rádios FMs). Um

fato curioso é que o clipe, apesar da precária produção visível, devido a pedidos do

público, participou da escolha da audiência na MTV, para o clipe que representaria o Brasil

nos Estados Unidos (perdeu para o Sepultura, com o clipe de "Territory"). A banda se

despediu de Brasília com um show no bar/ boate Gate's Pub, no dia 21/04/94.





O PRIMEIRO ÁLBUM


Com o lançamento do álbum, a banda volta pra São Paulo, para divulgar o disco. É nessa

época que o grupo é apresetado aos seus maiores ídolos, os Ramones. Eles estavam de

passagem pelo Brasil, e participaram de um coquetel, onde também estava sendo lançado o

álbum dos Raimundos. Digão conta: "Pois é, a gente estava lá no hotel, maior festa, disco

do Raimundos pra lá e pra cá, de repente eu olho pro lado e vejo o C.J., aí pensei: 'caralho,

fudeu!' a gente conheceu os caras, eles são muito loucos, entregamos o disco pra eles. Eu

nunca pensei que isso fosse acontecer comigo algum dia". A partir desta época a banda

começou a ganhar espaço na mídia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário